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Full text of "Existe Um Anjo Acompanhando O Crente O Tempo Todo"

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Almeida: A obra de uma vida 




João Ferreira de Almeida, conhecido pela autoria de uma das mais lidas traduções da Bíblia em português, 
ele teve uma vida movimentada e morreu sem terminar a tarefa que abraçou ainda muito jovem. Entre a 



grande maioria dos evangélicos do Brasil, o nome de João Ferreira de Almeida está intimamente ligado às 
Escrituras Sagradas. Afinal, é ele o autor (ainda que não o único) da tradução da Bíblia mais usada e 
apreciada pelos protestantes brasileiros. Disponível aqui em duas versões publicadas pela Sociedade 
Bíblica do Brasil - a Edição Revista e Corrigida e a Edição Revista e Atualizada - a tradução de Almeida é a 
preferida de mais de 60% dos leitores evangélicos das Escrituras no País, segundo pesquisa promovida 
por A Bíblia no Brasil. 

Se a obra é largamente conhecida, o mesmo não se pode dizer a respeito do autor. Pouco, ou quase nada, 
se tem falado a respeito deste português da cidade de Torres de Tavares, que morreu há 300 anos na 
Batávia (atual ilha de Java, Indonésia). O que se conhece hoje da vida de Almeida está registrado na 
"Dedicatória" de um de seus livros e nas atas dos presbitérios de Igrejas Reformadas do Sudeste da Ásia, 
para as quais trabalhou como pastor, missionário e tradutor, durante a segunda metade do século XVII. 

De acordo com esses registros, em 1642, aos 14 anos, João Ferreira de Almeida teria deixado Portugal 
para viver em Málaca (Malásia). Ele havia ingressado no protestantismo, vindo do catolicismo, e transferia- 
se com o objetivo de trabalhar na Igreja Reformada Holandesa local. Dois anos depois, começou a traduzir 
para o português, por iniciativa própria, parte dos Evangelhos e das Cartas do Novo Testamento em 
espanhol. Além da Versão Espanhola, Almeida usou como fontes nessa tradução as Versões Latina (de 
Beza), Francesa e Italiana - todas elas traduzidas do grego e do hebraico. Terminada em 1645, essa 
tradução de Almeida não foi publicada. Mas o tradutor fez cópias à mão do trabalho, as quais foram 
mandadas para as congregações de Málaca, Batávia e Ceilão (hoje Sri Lanka). Mais tarde, Almeida tornou- 
se membro do Presbitério de Málaca, depois de escolhido como capelão e diácono daquela congregação. 

No tempo de Almeida, um tradutor para a língua portuguesa era muito útil para as igrejas daquela região. 
Além de o português ser o idioma comumente usado nas congregações, era o mais falado em muitas 
partes da índia e do Sudeste da Ásia. Acredita-se, no entanto, que o português empregado por Almeida 
tanto em pregações como na tradução da Bíblia fosse bastante erudito e, portanto, difícil de entender para 
a maioria da população. Essa impressão é reforçada por uma declaração dada por ele na Batávia, quando 
se propôs a traduzir alguns sermões, segundo palavras, "para a língua portuguesa adulterada, conhecida 
desta congregação." 

O tradutor permaneceu em Málaca até 1651, quando se transferiu para o Presbitério da Batávia, na cidade 
de Djacarta. Lá, foi aceito mais uma vez como capelão, começou a estudar teologia e, durante os três 
anos seguintes, trabalhou na revisão da tradução das partes do Novo Testamento feita anteriormente. 
Depois de passar por um exame preparatório e de ter sido aceito como candidato ao pastorado, Almeida 
acumulou novas tarefas: dava aulas de português a pastores, traduzia livros e ensinava catecismo a 
professores de escolas primárias. Em 1656, ordenado pastor, foi indicado para o Presbitério do Ceilão, 
para onde seguiu com um colega, chamado Baldaeus. 

Ao que tudo indica, esse foi o período mais agitado da vida do tradutor. Durante o pastorado em Galle (Sul 
do Ceilão), Almeida assumiu uma posição tão forte contra o que ele chamava de "superstições papistas," 
que o governo local resolveu apresentar uma queixa a seu respeito ao governo de Batávia (provavelmente 
por volta de 1657). Entre 1658 e 1661, época em que foi pastor em Colombo, ele voltou a enfrentar 
problemas com o governo, o qual tentou, sem sucesso, impedi-lo de pregar em português. O motivo dessa 
medida não é conhecido, mas supõe-se que estivesse novamente relacionado com as idéias fortemente 
anti-católicas do tradutor. 

A passagem de Almeida por Tuticorin (Sul da índia), onde foi pastor por cerca de um ano, também parece 
não ter sido das mais tranquilas. Tribos da região negaram-se a ser batizadas ou ter seus casamentos 
abençoados por ele. De acordo com seu amigo Baldaeus, o fato aconteceu porque a Inquisição havia 
ordenado que um retrato de Almeida fosse queimado numa praça pública em Goa. 

Foi também durante a estada no Ceilão que, provavelmente, o tradutor conheceu sua mulher e casou -se. 
Vinda do catolicismo romano para o protestantismo, como ele, chamava-se Lucretia Valcoa de Lemmes (ou 
Lucrécia de Lamos). Um acontecimento curioso marcou o começo de vida do casal: numa viagem através do 



Ceilão, Almeida e Dona Lucretia foram atacados por um elefante e escaparam por pouco da morte. Mais 
tarde, a família completou-se, com o nascimento de um menino e de uma menina. 

Apartir de 1663 (dos 35 anos de idade em diante, portanto), Almeida trabalhou na congregação de fala 
portuguesa da Batávia, onde ficou até o final da vida. Nesta nova fase, teve uma intensa atividade como 
pastor. Os registros a esse respeito mostram muito de suas idéias e personalidade. Entre outras coisas, 
Almeida conseguiu convencer o presbitério de que a congregação que dirigia deveria ter a sua própria 
cerimónia da Ceia do Senhor. Em outras ocasiões, propôs que os pobres que recebessem ajuda em 
dinheiro da igreja tivessem a obrigação de f requentá-la e de ir às aulas de catecismo. Também se ofereceu 
para visitar os escravos da Companhia das índias nos bairros em que moravam, para lhes dar aulas de 
religião - sugestão que não foi aceita pelo presbitério - e, com muita frequência, alertava a congregação a 
respeito das "influências papistas." 

Ao mesmo tempo, retomou o trabalho de tradução da Bíblia, iniciado na juventude. Foi somente então que 
passou a dominar a língua holandesa e a estudar grego e hebraico. Em 1676, Almeida comunicou ao 
presbitério que o Novo Testamento estava pronto. Aí começou a batalha do tradutor para ver o texto 
publicado - ele sabia que o presbitério não recomendaria a impressão do trabalho sem que fosse 
aprovado por revisores indicados pelo próprio presbitério. E também que, sem essa recomendação, não 
conseguiria outras permissões indispensáveis para que o fato se concretizasse: a do Governo da Batávia 
e a da Companhia das índias Orientais, na Holanda. 

Escolhidos os revisores, o trabalho começou efoi sendo desenvolvido vagarosamente. Quatro anos 
depois, irritado com a demora, Almeida resolveu não esperar mais - mandou o manuscrito para a Holanda 
por conta própria, para ser impresso lá. Mas o presbitério conseguiu parar o processo, e a impressão foi 
interrompida. Passados alguns meses, depois de algumas discussões e brigas, quando o tradutor parecia 
estar quase desistindo de apressar a publicação de seu texto, cartas vindas da Holanda trouxeram a 
notícia de que o manuscrito havia sido revisado e estava sendo impresso naquele país. 

Em 1681, a primeira edição do Novo Testamento de Almeida finalmente saiu da gráfica. Um ano depois, ela 
chegou à Batávia, mas apresentava erros de tradução e revisão. O fato foi comunicado às autoridades da 
Holanda e todos os exemplares que ainda não haviam saído de lá foram destruídos, por ordem da 
Companhia das índias Orientais. As autoridades Holandesas determinaram que se fizesse o mesmo com 
os volumes que já estavam na Batávia. Pediram também que se começasse, o mais rápido possível, uma 
nova e cuidadosa revisão do texto. 

Apesar das ordens recebidas da Holanda, nem todos os exemplares recebidos na Batávia foram 
destruídos. Alguns deles foram corrigidos à mão e enviados às congregações da região (um desses 
volumes pode ser visto hoje no Museu Britânico, em Londres). O trabalho de revisão e correção do Novo 
Testamento foi iniciado e demorou dez longos anos para ser terminado. Somente após a morte de 
Almeida, em 1693, é que essa segunda versão foi impressa, na própria Batávia, e distribuída. 

Enquanto progredia a revisão do Novo Testamento, Almeida começou a trabalhar como Antigo 
Testamento. Em 1683, ele completou a tradução do Pentateuco (os cinco primeiros livros do Antigo 
Testamento). Iniciou-se, então, a revisão desse texto, e a situação que havia acontecido na época da 
revisão do Novo Testamento, com muita demora e discussão, acabou se repetindo. Já com a saúde 
prejudicada - pelo menos desde 1670, segundo os registros — , Almeida teve sua carga de trabalho na 
congregação diminuída e pôde dedicar mais tempo à tradução. Mesmo assim, não conseguiu acabar a obra 
à qual havia dedicado a vida inteira. Em 1691, no mês de outubro, Almeida morreu. Nessa ocasião, ele havia 
chegado até Ez 48.21 .Atradução do Antigo Testamento foi completada em 1694 por Jacobus op den 
Akker, pastor holandês. Depois de passar por muitas mudanças, ela foi impressa na Batávia, em dois 
volumes: o primeiro em 1748 e o segundo, em 1753. 

ABíblia no Brasil, n. 160, 1992, p. 14 
Fonte: BOL- Bíblia on-line /SBB